domingo, 2 de maio de 2010

Sonetos

Apreciando poesia, não dá pra deixar de perceber o espaço que os grandes poetas deram à forma soneto, composição poética de catorze versos, em geral rimados e dispostos em quatro estrofes (dois quartetos e dois tercetos), com versos de dez sílabas, até à última tônica, em sua maioria (modelo levado à perfeição por Camões). Note o 1º, 4º,5º e 8º versos terminados em "er", o 2º, 3º, 6º e 7º em "ente", o 9º, o 11º e 13º em "ade" e o 10°, 12º e 14º terminados em "or". Observe também os decassílabos, contados da primeira sílaba até à última tônica:

A-mor-é- fo-go-quear-de-sem -se-ver/
É-fe-ri-da-que-dói-e-não-se-sen(última tônica)-te

Soneto 5 (Camões)

Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

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