terça-feira, 2 de março de 2010
"Nova Fase"
Em 1996 me formei bacharel em violão erudito, e em 2000 gravei meu primeiro cd de canções. Como a canção é feita de letra e música, tenho me devotado, há algum tempo, à leitura. Sentia que minhas letras estavam aquém. Como disse Carlos Drummond de Andrade : “Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação. Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos.” Nesta caminhada prazerosa, descobri muita coisa boa. Estas descobertas, quero dividir com quem lê este blog. Considero “Leve é a Pena”, “Teus Olhos”, “Trabalha, Poeta” (gravada no cd “Dedo de Prosa”, em 2007) e “Semente”, escritas em 2004, o início de uma “nova fase”. Parte desta fase será encontrada no cd “Leve é a Pena”.
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Companheiro Silvestre, saúde.
ResponderExcluirNum dado momento de minha existência, percebi que era necessário colocar em destaque as coisas boas coisas que se nos apresentam. Essa atitude é contrária minha inclinação. Sou mais inclinado a colocar debaixo da crítica coisas negativas, principalmente aquelas produzidas pelo homem, do que louvar a beleza. Porém, às vezes faz-se necessário suspender o juízo, pois é melhor perder os olhos do que perder a alma.
Entendo que sua poesia musicada deve estar entre as coisas saudáveis a serem destacadas, coisa que de pronto já estou a fazer. Você transmite com qualidade tanto ideias relacionada ao Reino de Deus, como aquelas que fazem parte da vida comum da sociedade, seja ela religiosa ou não.
Recentemente escutei a bela sinfonia nº 3 “sinfonia das canções tristes” de Górecki. Um verdadeiro lamento que me fez sentir participante da miséria da humanidade, coisa que fez brotar em mim um intenso desejo de redenção. Companheiro, para minha surpresa, ao escutar sua composição "engrenagem" percebi-me novamente envolvido na miséria humana, como parte da engrenagem viciada e conformada, e, como tal, culpado por participar resignadamente do sistema que nos move. Em mim, sua canção, seu texto, cada vez que ouço, além de provocar um intenso constrangimento, faz-me desejoso de alcançar a redenção e finalmente, com as coisas que nos rodeia se livrar da condição deplorável que o capitalismo nos condiciona. Realmente, não somos só trabalho, como você afirma na música, como não somos apenas serem de consumo, Deus nos deu uma possibilidade muito maior. O interessante é que canções como essa, nos fazem relembrar a nossa verdadeira humanidade (possibilidade), promovendo o desejo de vivenciar o que nos é proposto, e que temos por vocação comum, ou seja, nos comunicar, amar e desfrutar o belo que a arte e natureza expõe, e nessa vivência, glorificar o grande artista que possibilita tudo isso. Graças a Deus, a arte fala a nossa alma e nos desperta, graças a Deus, os meios de sua graça se apropriam de linguagens, apesar de comuns, profundas, e nessa profundidade, atinge a nossa alma, e nos fazem relembrar o que realmente somos, diante e em confronto ao que consentimo-nos em se tornar.
Gostaria de ter essa composição por escrita (para se desfazer possíveis erros de percepção áudio/textual), e se possível, contar com a sua permissão para postá-la em meu blog.
Parabéns pela qualidade musical e pelos textos musicados.
Olá, Lailson. Muito obrigado pelo comentário sobre a canção "Engrenagem". A letra ( de José Barreto) vai abaixo:
ResponderExcluirFaço parte da grande massa/que por onde passa/
Não disfarça nem esconde/que a vida não tem valor/Não importa aonde... /não importa onde.
Faço parte da imensa ciranda/que a todo anda/
Não se incomoda nem sofre/com quem não teve escolha/Peça fora da engrenagem/Nasceu sem berço e pobre/Sem oportunidade.
Sou uma peça dessa engrenagem/que trabalha para si/se enfraquece e esquece/que ser gente é mais que produzir/ Ser gente é mais que produzir/é envolver-se e não se omitir/Ser gente é mais que produzir
Me perdi na multidão/que vagueia sem razão/
Que senta, chora e come/sem destino, sem rumo, sem nome
Que senta, chora e come/vagueia sem razão/
Sem destino, sem rumo, sem nome.